É a chamada casa do futuro: terá chão cinético, capaz de transformar os passos em luz. Será autossuficiente em energia elétrica e no abastecimento de água, com uso de chuva recolhida e filtrada. Os ambientes serão climatizados naturalmente, sem ar condicionado. Construída com pré-moldados, não terá nenhum material químico.
Ela será construída em Niterói, no Rio de Janeiro, às margens da Baía de Guanabara, numa praça pública. O projeto completo custa R$ 5 milhões, e é resultado de um "crowdsourcing", financiamento coletivo pela internet, implantado pela empresa Enel Brasil, filial da gigante energética italiana. O objetivo do experimento é colher informações sobre como as pessoas imaginam a vida doméstica no futuro. A casa faz parte do projeto N.O.V.A (Nós Vivemos o Amanhã), e foi a primeira a receber um dos mais importantes certificados ambientais na América do Sul, o Living Building Challenge. "Se trata de uma experiência inédita, tecnológica, sim, mas, principalmente, sociológica, no campo do comportamento e dos desejos. Algumas soluções, como a fonte de energia solar, forneceremos nós mesmos, outras iremos buscar nas start-ups envolvidas", disse à BBC Brasil o presidente da Enel Brasil, Marcelo Liévenes, durante a apresentação do projeto em Milão. A construção integra o programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As obras começarão em novembro, e a conclusão está prevista para antes dos Jogos Olímpicos, em agosto de 2016.
"Usaremos antigas técnicas de arquitetura no Brasil com mais de 500 anos, como o cruzamento da ventilação, a fonte geotérmica, pois escavando 20 m no solo conseguimos climatizar os ambientes naturalmente, substituindo o ar condicionado. Temos ainda o ensinamento do modernismo, com a paisagem entrando na residência", disse o arquiteto responsável pelo projeto, Arthur Casas.
Como será?
A construção terá 375 m² e será feita num terreno de 1000 m². As águas cinzas serão recicladas, assim como os dejetos e o lixo orgânico, que serão transformados em gás metano. Vidraças inteligentes dispensarão limpeza e irão alterar transparência em função da luminosidade externa. O pavimento da casa será de concreto modulado, que pode ser facilmente retirado e substituído. As tubulações e fiações passarão por baixo dele. Já a quadra de esportes terá piso cinético, que produzirá energia para iluminar o campo. A casa não precisará de eletricidade durante o dia. Monitores ligados à internet informarão o consumo de luz, água e gás em tempo real, além de dados de saúde dos moradores. Um concurso pela internet vai escolher a família que irá ocupá-la e os moradores serão, de certa forma, cobaias das novas tecnologias: os pesquisadores querem saber quais serão as mudanças de ritmos e hábitos no consumo, e em quanto tempo irão ocorrer. Eles irão acompanhar o comportamento dos habitantes na casa, através do fluxo de informações. "Queremos saber como as pessoas irão morar ali, como irão se adaptar às novidades. Isso é o que importa porque o futuro tecnológico é já obsoleto", disse Liévenes. A casa terá, ainda, um espaço para hóspedes, que pagarão pela estadia, como "bed & breakfast" ou "airbnb".